Famílias Mafra

Felício Germano de Oliveira Mafra

masculino 1807 -


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  • Nome Felício Germano de Oliveira Mafra 
    Batismo 24 Jun 1807  Itabira, Itabirito, MG Encontrar todos indivíduos com eventos neste local 
    • Itabirito, MG, Nossa Senhora da Boa Viagem, Batismos 1795-1815, 083v ou 105v.
      Felício. Aos vinte quatro dias do mês de Junho de mil oitocentos e sete nesta Matriz da Senhora da Boa Viagem da Itabira batizei solenemente e pus os santos óleos a Felício inocente, filho natural de Germana Ribeira da Silva. Foram padrinhos o Licenciado Manoel Joaquim de Oliveira e Anna Bernardina de Sene, filha de Anna Monteira, viúva. Todos desta freguesia. [...] O Vigário Francisco Xavier de Meirelles e Soiza. [1]
    Sexo masculino 
    ID da pessoa I023044  Mafra
    Última alteração 16 Nov 2012 

    Pai Joaquim José de Oliveira Mafra   fal. 10 Out 1860, São João del Rei, MG Encontrar todos indivíduos com eventos neste local 
    Mãe Germana Ribeiro da Silva 
    ID da família F008890  Ficha familiar  |  Diagrama familiar

    Família Maria Leal 
    Filhos(as) 
    +1. José Ildefonso de Oliveira Mafra
     2. Francelina Cândida de Oliveira Mafra
    ID da família F008891  Ficha familiar  |  Diagrama familiar
    Última alteração 17 Nov 2012 

  • Notas 
    • Oliveira Mafra, José de - A Família Mafra
      Advogado. Foi presidente da Câmara Municipal de Baependi. Grande orador, em 1868, por ocasião da visita da Princesa Izabel e do Conde d'Eu a Caxambu, foi o escolhido para os saudar. É considerado o descobridor das fontes de Caxambu. [2]
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      ESTE HOTEL TEM HISTÓRIA PARA CONTAR

      Águas de Caxambu

      Extraído do livro "Baependi", de José Alberto Pelúcio.

      Primeiros tempos. Aldeia incendiada.
      Em busca das águas. Felício Germano de Oliveira Mafra.
      Descobrimento.


      Não pode ficar em silêncio, na história baependiana, o descobrimento das águas minerais de Caxambu, outrora chamadas de Baependi; a esse acontecimento dedicamos, pois, as linhas seguintes.
      Um tanto incertos e obscuros são os relatos dos primeiros tempos de descobrimento; as versões, ao sabor dos narradores, variam. Uns atribuem a revelação da existência das águas a campeiros da fazenda Palmeiras, situada no distrito de Baependi e então pertencente a D. Luiza Francisca de Sampaio, os quais, indo em busca de animais que haviam desaparecido, penetram em um tremedal, coberto de árvores. Aí surpreenderam um manancial em plena efervescência, no qual se dessedentaram, notando o estranho sabor daquelas águas que a mata ocultava, com sombra amiga, à curiosidade humana. Essa versão sofreu, por parte do Dr. H. Monat, em seu livro Caxambu, impugnação, porquanto não achava ele plausível que, em terrenos daquela natureza, se ocultassem animais, levando até ali campeiros à sua procura. Demais, acentuou também, se d. Luiza ali já encontrasse águas minerais, não teria necessidade de procurar as de Lambari, como o fazia, anualmente, para alívio de seus males.
      Outra versão, talvez mais aceitável, prende-se à antiga fazenda Caxambu. Carpinteiros daí se internaram na mata em busca de madeira para uma certa obra que pretendiam realizar; a atenção dos mesmo foi atraída por um grande cedro, junto ao qual não se podia chegar com facilidade, devido ao terreno pantanoso onde se erguia. Os carpinteiros removeram a dificuldade, improvisando passadiços de madeira, fazendo por fim, tombar a valiosa árvore.
      Verificaram, então, que, das cavidades do solo, abertas pelas raízes deslocadas, surgia, turva, uma água efervescente que, com o tempo, se tornou límpida e pode ser experimentada. Era o líquido mineral.
      Foi, em 1806, proprietário da fazenda Caxambu o sargento-mor Joaquim Silveira de Castro Souza Medronho, ligado à família Noronha , com tronco radicado na fazenda Monte Seco, distrito da cidade de Baependi. Elegeu-se deputado à 1ª Legislatura paulista; seu nome aparece entre os que assinaram, em 1814, o auto de instalação da vila de Baependi.
      Dizia-se, também, comumente, que o descobrimento das águas de Caxambu ocorreu nesse mesmo citado ano de 1814; infere-se, porém, das recordações de Teixeira Leal, em 1842, que as águas já eram conhecidas em 1762 ou 1772. Maior precisão de dados faz-se mister para inteira elucidação do que haja realmente sucedido nos mais afastados tempos do aparecimento daquelas águas.
      Entretanto, para as mesmas corriam quantos buscavam readquirir a saúde perdida; doentes de várias moléstias anteviam a cura de seus males no líquido que ali estava, efervescente, dentro de um poço, de cerca de 12 palmos de boca, rasgado no fim de uma picada.
      Notavam-se papudos, loucos, cancerosos, cegos e outros enfermos que depositavam suas esperanças de cura nas águas recém-descobertas, não faltando infelizes portadores do mal de Hansen.
      Vida, a princípio, em certa promiscuidade; um rancho apenas, abrigava o sofrimento de todos.
      Depois outros ranchos ali foram erguidos, formando-se um acampamento de cerca de 40 palhoças, isso lá pelo ano de 1842.
      Nessa data, exercia o cargo de juiz municipal em Baependi o Dr. Aleixo Ferreira Tavares de Carvalho e o juiz de paz o cap. Joaquim de Oliveira Castro. O primeiro, que exerceu influência nos acontecimentos locais da revolução de 1842, determinou ao segundo que intimasse os leprosos a que deixassem o município, no prazo de 8 dias, sob pena de prisão.
      Abandonados os casebres, pouco depois, foram os mesmo incendiados por ordem da autoridade. Expurgo arrasador!
      O silêncio caiu sobre as águas.
      Algum tempo decorrido, apareceu em Baependi o fazendeiro Antônio de Oliveira Arruda, de Barra Mansa, cuja esposa d. Maria Josefa, havia já feito uso das águas de Lambari; sabedor das curas obtidas em Caxambu, quis conhecer a fonte aí aparecida, empreendendo, para isso, com escravos seus, o desbravamento do local, não conseguindo, entretanto, deparar com o poço a que já nos referimos. Seu trabalho, porém, não foi perdido, porquanto outra fonte lá apareceu, beneficiando-se com suas águas a mulher de Arruda. Agradecido, este abriu, entre amigos seus, para melhoramentos do lugar, uma subscrição, aplicando uma parte da quantia obtida e entregando a outra para o mesmo fim, ao negociante João Constantino Pereira Guimarães, que, por sua vez, mais tarde, transferiu o restante (40$000) a Felício Germano de Oliveira Mafra, autor de Breve exposição sobre as águas virtuosas de Baependi, valioso manuscrito, salvo do esquecimento, graças ao citado Dr. H. Monat, que o reproduziu, em anexo, no Caxambu e que ora tanto nos guia nesta narrativa.
      A estada do fazendeiro Arruda em Baependi foi no ano de 1843, como se lê em Apontamentos para a historia das Águas de Caxambu, publicação inserta em O Baependiano de 14 de outubro de 1877; os primeiros trabalhos de João Constantino realizaram-se, também, em 1843 e a esse respeito, diz a citada publicação, que o referido Constantino ordenou a roçada do terreno onde estavam as fontes, a abertura de esgotos, mandando, também, ai construir um rancho. Acrescentam os apontamentos da folha local: "Aqueles benefícios feitos por João Constantino deviam durar pouco, porque a vegetação luxuriante desta zona não dá lugar a muito tempo para descanço".
      Felício Germano, de compleição robusta, bigodes raspados, barba à imperial, baixa, militava no foro de Baependi, de cuja municipalidade foi, tempo decorrido, presidente; atirando-se, com decisão, à conquista das águas medicinais, disse, ao iniciar seu relato sobre as mesmas: "Estas agoas outrora denominadas santas ficarão no esquecimento até 1844 em que indagava de sua existência, e posto que a tradição não era muito remota, ninguém dava informações d'autilidade, unicamente se referiam a morpheticos, e queimados tais casebres de palha, e dirigindo-me a procura de vestígios dessa aldeã nada encontrei".
      Sua ação, pertinaz e denodada, em busca das águas minerais, avulta, observada mais perto; conhecia, por experiência própria, em sua saúde, o valor medicinal do tesouro desaparecido nos brejais e em busca do qual, cheio de fé, empenhara sua esclarecida atividade. Agindo no sítio, em cujo âmago, protegido pela mataria, andava oculta a ambicionada fonte que procurava, disse: "mandei abrir picadas diversas com o fito de encontrar algum vestígio do caminho que se dirigia ao poço virtuoso, o resultado foi sem fructo".
      Isso não o desalentou; sondando, com insistência o terreno que se mostrava fechado às suas pesquisas, relatou: "vendo a minha frente uma respeitável montanha que apelidavam - Morro de Caxambu - minhas idéias convergirão para proceder um exame na base inferior, e para melhor conhecimento de qualquer serviço subi ao alto observei toda extensão do varzedo, e voltei no firme propósito de procurar as águas na base da montanha".
      Se um dia algum artista houvesse de cinzelar o vulto de Mafra, homenageando sua memória, não deveria desprezar a inspiração dessa atitude - de pé, num cume de montanha, a mão erguida, em pala, sobre os olhos perscrutando o vargedo extenso.
      Dali desceu com um desígnio formado; abandonou as picadas abertas e ordenou que, em setor diverso, outras fossem rasgadas. Mas, aqueles homens resistentes foram, então, barrados em seu avanço; tinham, pela frente, um "grande tremedal impenetrável onde foi introduzindo uma vara de 25 palmos sem encontrar resistência, e quem se animaria a penetrar em semi abismo?".
      Muito vale uma vontade robusta ao serviço de uma idéia nobre; os olhos experimentados de Felício Germano descobriram, evitando o brejal, um bocado de terreno mais alto e aí concentrou ele seus esforços, narrando os acontecimentos daquele dia nestes termos: "ordenei a limpeza, que pouco trabalho dava saindo paus com raízes profundas pela moleza do terreno, e quando extraia o trabalhador um destes com grandes raízes surgirão 3 respiros de agoa no lugar certo das 3 raízes, e não podendo aproximar-me do lugar pela dificuldade do lameiro que atolava fiz logo construir ligeira estiva e por ela cheguei aos respiros em que surgio agoa com grande ebolição, e nunca pensei que fosse a melhor das fontes, como se tornou posteriormente."
      Foram, assim, coroados de feliz êxito os primeiros e ingentes esforços de Felício Germano.
      É de imaginar-se o que então se passara em seu espírito, tendo a água à sua frente, em "3 respiros", afastada, entretanto, de seu descobridor, pelo brejal traiçoeiro! Sua figura varonil, vista há quase um século de distância, projeta-se no cenário histórico daquele dia inesquecível, caminhando, com o coração em alvoroço, tateando sobre a frágil estiva, atraído pelo sonhado manancial, agora a seu alcance! Contou o descobridor, cheio de júbilo: "Sendo mais que feliz na primeira tentativa, mandei alargar o espaço, construir um poço com elevações por travessões de madeira faxinados por fora, até que via com prazer correr límpida esta agoa, que sustento ser um fonte nova, visto que nenhum vestígio se encontrou que denotasse ser o antigo poço, e já livre das censuras de remexedor de brejos anunciei a diversos amigos o êxito feliz de minhas pesquisas que moveu a curiosidade de muitos; a estrada tornasse fervedopus dos que iam e vinham; as famílias se reúnem com sumptuosos janctares, fogos e festins que voltam a completar com bailes na cidade ufana de possuir tão belo tesouro, e demais ufania me apoderara pela descoberta, que seria útil a humanidade".
      Felício, porque prezava sua reputação, já se sentia "livre das censuras de remexedor de brejos"; sarjara o tremedal, abrindo-lhe "um forte esgoto, e por ele corria límpida a fonte e os 3 respiros faziam grande rumor pela continua ebolição da agoa".
      Entretanto, todo aquele trabalho devia desaparecer em breve; pessoas desejosas de afastar das águas alguns fragmentos vegetais que nas mesmas apareciam, entenderam de encascalhar o terreno da fonte, ao que se opunha Felício, receoso de haver pressão nociva sobre as águas. Não obstante, na ausência do descobridor, lá atiraram grande porção de cascalhos "e foi diminuindo o fervor da fonte que sumio-se em fins do ano de 1845".
      Baldados os esforços dos novos obreiros em procura de outra fonte!
      Escreveu Mafra: "e todos voltam para mim as esperanças, instam e pedem que procure meios de restabelecer a primeira fonte; isto era impossível, mais fazendo extrair parte do cascalho, vi que tudo era baldado, a fonte estava perdida e para sempre sumida num tremedal profundo".
      Sirva isso de aviso à administração de Caxambu para que evite construções pesadas nas zonas vitais das fontes.
      Dos novos esforços resultou "respiro", "de menor fervor que foi substituído a fonte desaparecida".
      Dois trabalhos necessários, entretanto, ali desafiavam a atividade de Mafra: - a abertura de uma grande vala que fosse ao córrego e o rebaixamento deste. Vejamos como deles se saiu.
      O primeiro empreendimento abria-lhe a esperança de encontrar novas fontes, mas não era facilmente realizável. Sem recursos para se atira a semelhante empresa, dirigiu-se à Câmara Municipal, que, depois de hesitações, lhe aprovou os planos e aceitou sua oferta de administrador gratuito. Pagaria ela o dispêndio, mediante contas apresentadas; o trabalhador, porém, necessitava do recebimento pronto de seus salários. Felício solucionou a dificuldade, arranjou cozinha para os operários, promoveu pequena subscrição para que se construísse um abrigo para os mesmos e, em 1846, lançou-se corajosamente ao trabalho. Dizia ele a propósito: "os trabalhadores lutavam por todo dia com lameiro de mal cheiro, o que obrigava a dar-lhes aguardente por vezes, para reanima-los, visto que chegava o lameiro até a cintura, e o que se extraia em gamellas outros recebiam de fora, mas voltava tudo no estado primitivo, que obrigou a ter madeira pronta para lançar no fundo da vala, e nela se firmavam os trabalhadores.
      Afinal, chegaram ao córrego, mas este, com a força de suas águas, inundou parte da vala, tão penosamente aberta!
      Dava para desanimar! Felício, porém, não era homem que se entibiasse; comandou a luta contra o lameiro e a água, aparelhados seus homens com barris e gamelas, desobstruiu a vala, resguardando o trabalho feito. Ele, entretanto, nos contou: "a vala em 1846 se desmoronava em alguns lugares, a estiva abatida de novo amolecia o terreno e dezemparedava a valla; não podendo ver tais estragos fui repara-los pedindo adjutorio de serviços, para os quais forçoso é confessar que muito concorreo o atual Presidente da Câmara prestando-me escravos, e adjutorio de quantias de Dr.o e pela m.a parte carreguei contudo mais, como é publico e notório em todo Baependi."
      Por muito tempo andou no desembolso do que despendera com a abertura da vala. Isso não arrefeceu seu ardor.
      Em mister que se fizesse o rebaixamento do córrego, para conservação da vala e dos "respiros" que na mesma apareciam.
      Ei-lo, novamente, às voltas com a Câmara; ofereceu-se para dirigir gratuitamente os serviços, propondo-se receber depois o que fosse gasto; aceito o alvitre, Felício iniciou o rebaixamento do córrego na barra do ribeirão João Pedro e subiu até à estrada do Tabuão.
      Muitos obstáculos lhe apareceram; quem quiser conhecê-los leia a narrativa que dos mesmos fez.
      Quando se realizavam escavações para um aterro, surgiu um fraco veio de água mineral, que não foi beneficiado; três outros apareceram, também, não beneficiados por dependerem de mudança do córrego. O rebaixamento deste chegara à vala. Dizia Felício Germano: "gr.de foi meo contentam.to vendo terminada a tarefa que a mim próprio havia imposto, e quando em frente da m.a valla anunciou um trabalhador do lado esquerdo = aqui tem agoa, outro acima repetio a mesma expressão, parecia-me isto incrível ms disse comigo, se tal acontece é um prodígio que vem a coroar meus esforços, e logo se tornou em realidade por que ordenado a limpeza do terreno, quando ambos ferem com enxadas o lugar, aparecem 2 fortes respiros, de águas gasosas férreas, muito cristalinas, quando caiam no leito do córrego; meu contentamento foi extremo, e dei ferias aos trabalhadores porque quando a obra principal estava concluída e meus desejos realizados ms convideios para virem no seguinte dia extremar o córrego das fontes que auctorio-se com algum prazer."
      Acrescentou: "Defacto separou-se o córrego pela pressão de forte estacada e aterro, alargando as margens de outro lado, e depois de concluir ali o serviço foram os trabalhadores servidos do jantar, inaugurando eles proprios as fontes com 2 pequenos bicos em cujo acto se lançaram muitos foguetes, e no fim desta festa campestre chegarão no rancho muitos cavalheiros desconhecidos, dirigindo-se as fontes novas tomarão água: era o Conselheiro Honorio Hermetto Carneiro Leão em companhia do Comendador Venancio José Gomes da Costa e outros que vinham experimentar as águas, e depois de alguma demora se ausentarão afazda dos Campos onde estava alojado o mesmo Conselheiro que por 13 dias usou das águas com grande vantagem, e era hospedado diariamente no rancho e sem a menor cerimonia".
      Segundo o dr. H. Monat, as fontes descobertas por Felicio Germano são as designadas pelos nomes - d. Pedro. D. Leopoldina e d. Isabel.
      Conta O Baepenyano, nos já citados Apontamentos para a história das Águas de Caxambu: "Enquanto os jornaleiros roçavam as beiras do córrego, o Sr. Mafra margeava-o pela parte esquerda, subindo sempre, até que parou aterrado por uns roncos que ouvio a poucos passos de distancia; persuadido que fosse algum animal bravio, grita pelos trabalhadores, os quais, armados de fouces correm ao lugar e em vez de uma fera encontrão um manancial de saúde para a humanidade; era essa riquíssima fonte de águas férreas, hoje chrismada com o nome de nossa adorável Princesa Izabel, que, livre do peso das águas do córrego, dava sinais de sua existência, e parecia então dizer aos jornaleiros armados: destes-me vida, não me mateis pois agora, beneficiai-me antes, que será tudo em proveito vosso."
      Os serviços de José Nogueira de Sá, João Constantino Pereira Guimarães, Antônio Teixeira Leal, Dr. Manoel Joaquim Pereira de Magalhães, velhos benfeitores de Caxambu, assim como os de outras pessoas que, depois, lá surgiram, devem constituir estudos referentes à história caxambuense, propriamente dita. Aqui, esboçamos, apenas, fatos pertinentes aos descobrimento e rendemos, ao findar este relato, nossas homenagens aos que labutaram. Com tamanho denodo, sem alardes, pela conquista dessas admiráveis fontes de saúde e riqueza que são as águas minerais de Caxambu.


      Diário da Princesa Isabel em Caxambu

      Ainda jovem, contando as suas 18 primaveras de beleza e vida, entre festas e flores, casava-se a Princesa Isabel, em 1864, com Luiz Felipe Gastão Orleans, o Conde d'Eu. Dois anos depois triste e amarga realidade já se fazia sentir no coração de S.A. Toda a alegria, toda a felicidade vivida dissipara-se e transformara-se em um trágico e difícil problema, cuja resolução se resumia apenas na possibilidade ou impossibidade da concepção de um herdeiro.
      Decorriam-se os tempos e a tristeza aumentava, estampada num contraste vivo, no semblante belo de S.A. Imperial. Aos tratamentos mais indicados submetera-se, as novidades e panacéias ultra-modernas da época lhe aplicadas foram e o resultado positivo, nada ... Já na Côrte comentava-se a sua aflitiva situação e já, em seus pensamentos se debatia a triste realidade ... Nesse sofrimento vivia S.A. Imperial, quando em meados do ano de 1868, como um farol que iluminando o mar encapelado o barco errante salva brilhou em sua vida uma estrela nova.
      Notícias reconfortantes procediam da Europa.
      As milagrosas curas de esterilidade pelas Águas Minerais, no Velho Mundo eram uma realidade. Sem perda de tempo, nutrida de esperanças novas, S.A. resolveu experimentar um tratamento in-loco, com as Águas Minerais de Caxambu, cuja propagação naquela época, ocupava a ordem do dia e já eram consideradas no Império como as melhores do mundo.
      No dia 15 de novembro de 1868, a Princesa, acompanhada de seu esposo Conde d'Eu, do médico Dr. N. Feijó, do Conde e Condessa de Lages, do Conde de Aljezur e de outros amigos, deixava a Côrte do Rio de Janeiro, às 5h da manhã em trem expresso da Estação D. Pedro II, desembarcando às 10:40hs na Estação da Boa Vista (hoje Eng. Passos), onde almoçaram todos no Hotel Ferraz & Irmão. Após o almoço, em liteiras especiais de luxo, cedidas pelo Sr. Tte. Cel. João Evangelista de Souza Guerra de Baependy e outras pelo Sr. Benjamim Luiz Duprat da Fazenda de Três Pinheiros, às 12hs deram início à viagem de subida à Serra da Mantiqueira, fazendo a comitiva um pequeno lanche às 14hs no Hotel Palmital, seguindo logo para o Hotel da Floresta de propriedade da Sr. Luiz Jardim, três quartos de légua abaixo do registro do Picú, onde pernoitaram.
      Às 5h do dia seguinte, encetaram de novo a viagem, indo almoçar em São José do Picú (hoje Itamonte) já do outro lado da serra, no Hotel de propriedade do Sr. Pereira, e às 14hs, passavam pelo arraial do Capivary para pernoite mais adiante em Pouso Alto. No terceiro dia, às 7hs retomaram a viagem, indo almoçar no Hotel Boa Vistinha, e assim, após 15 léguas percorridas desde a Estação da Boa Vista, precisamente às 16,30hs triunfal chegava a Caxambu a caravana de S.A., dia 17 de novembro de 1868, data que ficaria, como de fato ficou, na história de nossa Hidrópolis.
      A primeira Dama do País, S. A. Imperial a Princesa Isabel filha do Monerca D. Pedro II, Imperador do Brasil, chegava a Caxambu, para uso de nossas águas minerais, não medindo o sacrifício da estafante e cansativa viagem daqueles dias. Grande era a multidão que a aguardava ... tão grande, que se tornara pequena para acomodar a todos a nossa Caxambu da época. Procedentes de todos os recantos da Província, chegavam caravanas... Barracas se armavam em todos os recantos... todos desejavam conhecer a Princesa! E assim, entre flores, salvas de palmas, vivas e aclamações e ainda ao som da harmoniosa e alegre Banda de Música de Baependy, é que recepcionada foi, a comitiva de S.A., que em Caxambu se hospedou no Palacete de propriedade do Sr. Dr. Carlos Theodoro Bustamante, em frente ao já demolido Parque Hotel, onde atualmente se localiza, o edifício Pan-América.
      Usou da palavra no ato da recepção, Felício Germano de Oliveira Mafra, Presidente da Câmara de Baependy, desejando à Família Imperial e muito particularmente a Princesa, uma feliz e proveitosa estada em Caxambu formulando ao ensejo um convite em nome do povo de Baependy para uma visita àquela cidade. Felício Germano de Oliveira Mafra, transformou-se daquele momento em diante, numa espécie de diretor do protocólo da Família Imperial, auxiliado pelo Visconde de Caldas e pelo Conde de Baependy.
      No dia 18, em suas orações, fazia a princesa Isabel aquela promessa que se tornaria histórica ... se conseguisse a concepção de um herdeiro, faria construir uma Igreja sob a invocação de Santa Isabel de Hungria. No dia 22, na parte da tarde, no alto da colina onde se localizava o cruzeiro ali plantado em 3 de maio de 1862, com a presença de grande número de pessoas, fez S. A. o lançamento da Pedra Fundamental da Igreja de Santa Isabel de Hungria. Diz o livro do Tombo da paróquia de Baependy, que este ato foi oficiado pelo Revmo. Pároco Mons. Dr Luiz Pereira Gonçalves de Araújo e tendo como ajudante o Rev. Pe. Capelão João Pires de Amorim, acolitados pelo então seminarista Marcos Pereira Gomes Nogueira.


      Vejamos a ata dessa solenidade:
      "Aos vinte e dois dias do mês de novembro do ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e sessenta e oito (1868) na Povoação das Águas de Caxambu, Cidade de Baependy, Bispado de Mariana Provícia de Minas Gerais do Império do Brasil, no reinado de Muito Alto e Poderoso Senhor Dom Pedro Segundo e no Bispado do Excelentíssimo Senhor Conde da Conceição Dom Antônio Ferreira Viçoso, na presença da Câmara Municipal da mesma cidade de Baependy, sua Alteza Imperial, a Sereníssima Senhora Princesa D. Isabel Condessa d'Eu acompanhada de seu Augusto Esposo, o Sereníssimo Senhor Príncipe Dom Luiz Filipe Gastão de Orleans Conde d'Eu, e outros dignou-se lançar solenemente a pedra fundamental para a edificação de uma Igreja com a invocação de Santa Isabel de Hungria, solenidade esta a que se procedeu sendo a pedra benta segundo cerimônia marcada pela Igreja, oficiando o Reverendo Senhor Monsenhor Luiz Pereira Gonçalves de Araújo e conduzida processionalmente até o lugar competente onde foi colocada por sua Alteza Imperial, no sítio em que deve ser levantado o alicerce da referida Igreja.
      E eu Alexandre Manoel Vieira de Carvalho visconde de Lages Grande do Império veador de sua Majestade a Imperatriz no serviço de Suas Altesas Imperiais, lavrei este têrmo em duplicata o qual sendo assinado pelas pessoas de sua Altesa Imperial indicou, será contido com as moedas e jornais da presente época na caixa colocada da pedra fundamental ad perpétuam rei memoriam sendo o outro autógrafo remetido para os arquivos da Câmara Municipal da Cidade de Baependy".
      Ass. Visconde de Lages Isabel Princesa Condessa d'Eu Gastão de Orleans. Mons. Luiz Pereira Gonçalves de Araújo vigário da Vara, José Pedro Américo de Matos, (comendador), o Capelão de SS. AA. Imperiais Padre João Pires de Amorim, Jonas Inácio de Carvalho, Antonio José Gomes de Carvalho, Dr. Manoel Joaquim Pereira de Magalhães, Major Teófilo José de Andrade, José Ruiz Pinheiro, Francisco e Paula S... Antônio Máximo Ribeiro da Luz (Juiz de Direito), Antonio Carlos Carneiro Viriato Catão (Juiz Municipal), Antonio Torquato Fortes Junqueira (Promotor Público), Luiz Antonio de Oliveira (Comandante Superior), Carlos Teodoro de Bustamante, Visconde de Lages, Cons. Luíz de C. Feio, Major Hilário Mariano da Silva, servindo de mordomo de SS. AA.
      Nota: O documento acima encontra-se em perfeito estado de conservação, conf. décimo quinto Anuário da Diocese da Campanha. Pág. 23 Publicado em 1953.

      Em sua firme esparança prosseguia a Princesa, religiosamente o seu tratamento com o uso das águas minerais. No dia 24 de novembro, atendendo ao convite formulado por Oliveira Mafra, transportou-se com toda sua comitiva para Baependy onde grandioso programa havia sido elaborado. Missa Solene, Banquete, Visitas Te Deum, O Beija Mãos eo Histórico e Pitoresco Baile do Paço da Câmara. Hospedou-se a Princesa e sua comitiva no Palacete de propriedade do Comendador José Pedro Américo de Mattos. Este prédio ainda exite, situando-se na esquina da rua Senador Alfredo Catão com a rua Dr. Manoel Joaquim naquela cidade vizinha, mais tarde foi transformado em hotel (Hotel do Comércio) e até pouco tempo pertenceu ao Sr. Marcelino Ferreira e atualmente foi vendido para o Clube de Baependi ( Botafogo ).
      Regorgitava aquela cidade ante ao auspicioso acontecimento. Todas as ruas garbosamente enfeitadas e ao som festivo dos sinos das Igrejas, das Bandas de Músicas em desfile pelas ruas, também chegava a Baependy, a fina flor da aristocracia da Província Sul Mineira para conhecer a Princesa. Relata-nos um episódio um tanto quanto pitoresco sobre o assunto o jornal "O Patriota" de 27 de julho de 1935, de cujas páginas coligimos os dados que a seguir iremos reportar.
      O Comendador José Pedro Américo de Mattos, era figura de grande projeção política e social, gozando de grande conceito e estima em toda região do Sul da Província. Foi deputado à constituinte mais tarde e naqueles tempos, embora não fosse formado, advogava na Comarca de Baependy, graças a sua grande inteligência e sagacidade. Não obstante a empanar-lhe as suas qualidades, havia um fator terrível na época _ a sua tez. A sua cor morena, bem morena, e porque não dizer mulata, era uma característica mais ou menos indiferente aos de seu sexo, no entanto, naqueles tempos, era motivo de funda abstenção por parte das senhoras. Estas, todas as vezes que a ele se referiam, não dispensavam nunca a dolorosa advertência - Inteligente sim, mas é um homem de cor!... Era esse homem de cor, que estava hospedando em Baependy, em sua residência, a primeira dama do País, S. A. Imperial a Princesa Isabel e toda a sua comitiva.
      Às 20hs. estava marcado o Balie do Paço da Câmara e o povo já de muito se aglomerava na praça... na hora exata chegava o séquito de S. A. Quando a Princesa cercada de suas damas de honra desceu de sua liteira, houve um movimento de verdadeiro suspense. Palmas e vivas, ecoaram desde o Palacete da Comendador Mattos, até à frente da Câmara. O salão estava elegantemente decorado com as armas do Império e um grande quadro a óleo de S. M. o Imperador, pendia na parede azul do salão nobre, onde se erguia o trono entre graves cortinas de Damasco. A orquestra ensaiava já as primeiras notas, enquanto ansiosamente os pares aguardavam o início do baile.
      Ostentava a Princesa, um amplo vestido rodado de fulgurante seda ouro velho, que aliava a perfeição do corte à extrema e elegantíssima simplicidade; busto comprimido na telas de um mimiso corpete acoletado e seu rosto estava como que nimbado de estranha claridade. Eram seus cabelos acastanhados e se abriam numa risca central juntando-se em duas ondas por trás das orelhas, onde luziam dois purríssimos brilhantes emoldurando o rosto claro quase infantil e maviosa expressão. Toda a beleza de seus 22 anos ali resplandecia...
      Abrindo o Baile, conforme protocolo S. A., dançou com o Presidente da Câmara Felício de Oliveira Mafra. O Comendador Mattos, apreciava o Baile numa das poltronas do lado oposto ao trono, pois não ousava tirar nenhuma daquelas aristocráticas senhoras ali presentes. Não obstante a perspicásia de S. A. que há muito o observava não tardou muito a se fazer sentir. A um pedido de S. A. a orquestra deu início à execução de uma linda valsa vienense... nesse mesmo instante, houve entre todos os presentes, um movimento de espanto, quase de estupor. O conde, tomando a Princesa pela mão, como se fosse com ela dançar, levara-a ostensivamente para o meio do salão e bem em frente ao Comendador, lha deu como par. Pertubou-se o Comendador Mattos, ante tamanha honra para ele. Quê?!... Vinha o Sr. Conde, dar-lhe a Princesa para dançar? A ele o homem de cor, o homem sempre repudiado pelas damas da sua terra? Não, não era possível! Mais parecia um sonho!
      D. Isabel sorria, adivinhando no enlevo a felicidade traída inconscientemente nos gestos do Comendador. Este por sua vez, refeito de tão agradável surpresa e já de posse de sua costumeira elegância, saiu pelo salão, rodopiando a melodiosa valsa com a Princesa. Dizem que jamais presenciaram em Baependy uma peça tão bem dançada e por um par tão perfeito.
      Foi tal a estupefação que, durante todo o tempo em que dançavam, suspensos, maravilhados, se deixavam todos ficar, ante tão belo espetáculo, imóveis em um grande círculo comtemplando o par. Logo ali fora correu pela multidão ávida de sensações, a notícia alarmante, que era como um grito de vitória: -A Princesa está daçando com o Comendador Mattos!
      Findara a valsa, sob o pretexto de uma ligeira indisposição retirou-se a Princesa do Baile. Após a interrupção causada pela retirada de S. A. recomeçaram as danças, valsas, mazurkas, schottiches e outras peças em moda na época. Coisa curiosa, daquele momento em diante todas as atenções eram voltadas para a figura do Comendador Mattos. As respeitáveis damas, as fidalgas senhoritas a ele dirigiam insistentes olhares, que eram acintosos convites. Mas, o Comendador sereno, voltara a sentar-se na mesma poltrona, e a olhar distraidamente através de um espelho de frente o movimento da rua. Neste instante em que divagava, uma elegantíssima e formosa dama, de todas a mais formosa e aristocrática, dele acercou-se insinuando-lhe sentir imenso prazer em tê-lo como par, ao que respondeu-lhe o Comendador em magnífica desculpa, que fez sucesso e esmagou de uma vez para sempre, os preconceitos até então reinantes:
      - Não, minha senhora, muito obrigado, mas queira excusar-me. Porque, quem dançou com a Princesa, com outra mulher não pode dançar!
      Nos dias 25 e 26 muito descansou S. A., após as festividades de Baependy. No dia 27 com seus convivas, fez abrir uma subscrição de donativos para dar início à obra de construção da Igreja de Sta. Isabel. A referida subscrição produziu a importância de 4.000.000, quantia bastante razoável na época.
      No mesmo dia, devidamente rubricado pelo Meritíssimo Juiz Municipal de Baependy, Viriato Catão, fez abrir o livro de Atas de Reuniões dos membros da irmandade de Sta. Isabel da Hungria. No dia 29 foi feita a primeira reunião conforme ata que a seguir transcrevemos:

      ATA DA PRIMEIRA SESSÃO DOS MEMBROS DA IRMANDADE DE Sta. ISABEL DA HUNGRIA SOB A PRESIDÊNCIA DE S. A. O CONDE D'EU.
      Aos vinte e nove dias de novembro de mil oitocentos e sessenta e oito achando-se presentes os membros da mesa, provedor Tte. Cel. João Evangelista de Souza Guerra, vice-provedor Aferes José Pedro Américo de Matos, tesoureiro Dr. Carlos Teodoro Bustamante, procurador Francisco Viotti, administrador José Luiz da Silva Prado, secretário Antonio Torquato Fortes Junqueira, disse S. A. o senhor Conde d'Eu que convocava aquela reunião a fim de tratar do compromisso da Irmandade e tomar-se algumas providências a respeito do andamento das obras da igreja e depois de algumas observações dos membros da mesa deliberou-se, que se oficiasse ao Mons. Dr. Luiz Pereira Gonçalves de Araújo pedindo que se incumbisse de formular o compromisso, ficando este sujeito à aprovação dos membros da mesa.
      Deliberou-se igualmente que ficasse esta mesma mesa nomeada por S. A. senhor Conde d'Eu até ser aprovado o compromisso pelos poderes competentes. Por indicação do Sr. Dr. Carlos decidiu-se que nenhuma festa se faria antes de estar o templo concluído ou pelo menos em estado que pudesse servir para celebrar-se Missa. Por indicação do senhor Guerra decidiu-se que as jóias que os membros da Irmandade e empregados concorressem fossem empregadas na construção do templo. Resolveu-se igualmente que o tesoureiro Sr. Dr. Carlos ficasse incumbido de mandar vir já uma máquina de fazer tijolos e que servisse igualmente para fazer telhas francesas, chatas, e que se contratasse um operário que soubesse trabalhar com a dita máquina: e ainda mesmo entendendo-se para esse fim com o Comendador Mariano Procópio Ferreira Lage para ceder um dos que trabalham em seu estabelecimento até que haja quem saiba trabalhar com a dita máquina.
      S. A. o senhor Conde d'Eu ofereceu a considerações da mesa alguns desenhos de templos para servir de modelo ao que já escrevera para a Europa pedindo planos modernos de igreja resolvendo esperar os ditos planos, para depois deliberar-se qual deveria servir na obra projetada: Como porém esta espera não impediria o começar alguns trabalhos preparatórios, deliberou-se que o procurador e o administrador desde já se incumbisssem de contratar pedras e puxá-las para o lugar onde se tem de edificar o templo. Resolveu-se igualmente que se oficiasse as pessoas que já tenham feito uso destas águas pedindo coadjuvação pecuniária para poder-se levar adiante a projetada obra.
      Nada mais havendo a tratar S. A. levantou a sessão e eu Antônio Torquato Fortes Junqueira, secretário interino lavrei esta ata que vai assinada por S. A. o senhor Conde d'Eu e membros da mesa.
      Ass.- Gastão de Orleans - João Evangelista de Souza Guerra - Carlos Teodoro Bustamante- Francisco Viotti - José Pedro Américo de Matos - José Luiz da Silva Prado.

      Não podemos afirmar o número de dias que S. A. permaneceu em Caxambu. Não obstante, podemos afirmar que ela regressou à Corte cheia de vida, alegre, feliz e nutrida de novas esperanças... Estava curada? O tempo logo haveria de responder esta pergunta... Sim, a Princesa estava curada de fato, pois logo, três lindos e robustos varões seus, garantiam a perpetuação dos Orleans e Bragança: D. Pedro do Gran Pará, D. Antonio e D. Luiz. E a igreja Santa Isabel, erguida no alto da mesma colina onde em 22 de novembro de 1868 foi plantada a Pedra Fundamental, ali permanece firme num fiel testemunho daquilo tudo que aqui reportamos.

      IGREJA SANTA ISABEL
      Como dissemos, após o lançamento da Pedra Fundamental da Igreja Sta. Isabel em Caxambu, em 22 de novembro de 1868 vontade da Princesa Isabel, foi feita um subscrição que produziu cerca de 4:000$000. Iniciados os trabalhos, não obstante o interesse de seus promotores, não puderam completá-los. Com os acontecimentos políticos que foram se agravando a obra sofreu um interrupção. A Princesa contudo não olvidou o seu nobre empreendimento. Tanto assim que pediu ao seu esposo Conde d'Eu que escrevesse uma carta cujo teor aqui transcrevemos:
      Exmo. Sr. Cons.º Joaquim Delphino, Tendo de retirar-me, bem apesar meu, deste país, não quero deixar de mais uma vez recomendar à sua proteção, em nome da Princesa e no meu, a conclusão das obras da Capela de Santa Isabel da Hungria, no arraial de Cachambu, município de Baependy. Estas obras pias projetadas desde seu comêço pela Princesa, teve certo impulso principalmente devido aos esforços de V. E. e de seu ilustre filho o distinto engenheiro Dr. Christiano Ribeiro da Luz. Seria para nós grande satisfação, saber que não fica ela abandonada, mas que marcha para a sua conclusão.
      Confiado pois no espírito religioso de V. E. e de seu digno filho e nos sentimentos da amizade que nos tem mostrado, ouso esperar que mais uma vez tomarão em mão este piedoso empreendimento. Aproveito com prazer esta oportunidade para reiterar-lhe a expressão de meus sentimentos de particular consideração e estima.
      Ass. Gastão de Orleans. Bordo da Canhoneira "Parnaiba", Rio de Janeiro, 17 de novembro de 1889.
      É de se notar o afeto, a delicadeza e o sentimento da Redentora num momento crucial de sua vida lembrando-se de Caxambu e de sua promessa. Dois dias depois a Proclamação da República, a bordo da nave que a levaria ao exílio, o Conde d'Eu escrevia a carta transcrita. Seus devotados amigos, tomaram a si o empreendimento. O Cons. Mayrink, pôs toda sua dedicação à obra planejada e levou avante a contrução da igreja.

  • Fontes 
    1. [S106] Registros da Igreja Católica, Itabirito, MG, Nossa Senhora da Boa Viagem, Batismos 1795-1815, 083v ou 105v.

    2. [S132] Oliveira Mafra, José de - A Família Mafra, (Belo Horizonte, MG - 1974).